sexta-feira, 6 de abril de 2007

Poesia e mendicidade

Castro Alves

(No álbum da Exma। Sra. D. Maria Justina Proença Pereira Peixoto)

I

Senhora! A Poesia outrora era a Estrangeira,
Pálida, aventureira, errante a viajar,
Batendo em duas portas - ao grito das procelas -
Ao céu - pedindo estrelas, à terra - um pobre lar!

Visão - de áureos lauréis - porém de manto esquálido,
Mulher - de lábio pálido - e olhar - cheio de luz.
Seus passos nos espinhos em sangue se assinalam...
E os astros lhe resvalam - à flor dos ombros nus ...

II

Olhai! O sol descamba... A tarde harmoniosa
Envolve luminosa a Grécia em frouxo véu.
Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento,
De um marco poeirento um velho então se ergueu.

Ergueu-se tateando... é cego... o cego anseia...
Porém o que tateia aquela augusta mão?
Talvez busca pegar o sol, que lento expira!...
Fado cruel... mentira!... Homero pede pão!

III

Mas ai! volvei, Senhora, os vossos belos olhos
Daquele mar de abrolhos, a um novo quadro! olhai!
Do vasto salão gótico eu ergo o reposteiro...
o lar é hospitaleiro... Entrai, Senhora, entrail

Estamos na média idade. Arnês, gládio, armadura
Servem de compostura à sala vasta e chá.
A um lado um galgo esvelto ameiga e acaricia
A mão suave, esguia - à loura castelã.

Vai o banquete em meio... O bardo se alevanta
Pega da lira... canta... uma canção de amor...
Ouvi-o! Para ouvi-lo a estrela pensativa
Alonga pela ogiva um raio de languor!

Dos ramos do carvalho a brisa se debruça...
Na sala alguém soluça... (amor, ou languidez?)
Súbito a nota extrema anseia, treme, rola...
Alguém pede uma esmola... Senhora, não olheis!...

Assim nos tempos idos a musa canta e pede...
Gênio e mendigo... vede... o abismo de irrisões!
Tasso implora um olhar! Vai Ossian mendicante...
Caminha roto o Dante! e pede pão Camões.

IV

Bem sei, Senhora, que ao talento agora
Surgiu a aurora de uma luz amena.
Hoje há salário p'ra qualquer trabalho,
Cinzel, ou malho, ferramenta ou pena!

Melhor que o Rei sabe pagar o pobre
Melhor que o nobre - protetor verdugo -
Foi surdo um trono... à maior glória vossa...
Abre-se a choça aos Miseráveis de Hugo.

Porém não sei se é por costume antigo,
Que inda é mendigo do cantor o gênio.
Mudem-se os panos do cenário a esmo
O vulto é o mesmo... num melhor proscênio ...

V

Hoje o Poeta - caminheiro errante,
Que tem saudade de um país melhor
Pede uma pérola - à maré montante,
Do seio às vagas - pede - um outro amor.

Alma sedenta de ideal na terra
Busca apagar aquela sede atroz!
Pede a harmonia divinal, que encerra
Do ninho o chilro... da tormenta a voz!

E o rir da folha, o sussurrar da fala,
Trenos da estrela no amoroso estio.
Voz que dos poros o Universo exala
Do céu, da gruta, do alcantil, do rio!

Pede aos pequenos, desde o verme ao tojo,
Ao fraco, ao forte. . . - preces, gritos, uivos ...
Pede das águias o possante arrojo,
Para encontrar os meteoros ruivos.

Pede à mulher que seja boa e linda
- Vestal de um tipo que o ideal revela...
Pois ser formosa é ser melhor ainda...
Se és boa - és luz... mas se és formosa - estrela...

E pede à sombra p'ra aljofrar de orvalhos
A fronte azul da solidão noturna.
E pede às auras p'ra afagar os galhos
E pede ao lírio p'ra enfeitar a furna.

Pede ao olhar a maciez suave
Que tem o arminho e o edredon macio,
O aveludado da penugem d'ave,
Que afaga as plumas no palmar sombrio.

E quando encontra sobre a terra ingrata
Um reverbero do clarão celeste,
- Alma formada de uma essência grata,
Que a lua - doura, e que um perfume veste;

Um rir, que nasce como o broto em maio;
Mostrando seivas de bondade infinda,
Fronte que guarda - a claridade e o raio,
- Virtude e graça - o ser bondosa e linda ...

Então, Senhora, sob tanto encanto
Pede o Poeta (que não tem renome)
- Versos - à brisa pra vos dar um canto...
Raios ao sol - p'ra vos traçar o nome! ...

Dia nacional da poesia

  • Rejane Miranda
  • 14/03/2007, 12:18


Todo dia é dia de poesia. Em todos os cantos do mundo, em todo os momentos,há alguém evocando sensações, impressões e emoções por meio de sons e ritmos harmônicos.
Antigamente, as poesias eram cantadas, acompanhadas pela lira, um instrumento musical muito comum na Grécia antiga. Por isto, diz-se que a poesia pertence ao gênero lírico.
Hoje é considerado o Dia Nacional da Poesia pois foi nesta data que nasceu o grande poeta brasileiro Castro Alves. Poeta romântico, Castro Alves morreu de tuberculose na capital baiana Salvador em 06 de julho de 1871, com apenas 24 anos. Ele escreveu poesias importantes como “Navio Negreiro” e, não à toa, ficou conhecido como poeta dos escravos. Por ser um dos grandes expoentes da poesia romântica no Brasil é que Castro Alves é homenageado até hoje.
A poesia é uma arte literária e, como arte, recria a realidade. O poeta Ferreira Gullar diz que o artista cria um outro mundo “mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata”.
Para outros, a arte literária nem sempre recria. É o caso de Aristóteles, filósofo-grego que afirmava que “a arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra”. Geralmente a expressão “poesia” se aplica à estrutura de texto em versos. Os versos são as “linhas” do poema. Um conjunto de versos forma uma estrofe.

"O livro caindo na alma/ é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar" - Castro Alves


"Há 10 tipos de pessoas no mundo: os que conhecem código binário, e os que não." - Geek desconhecido