terça-feira, 23 de outubro de 2007

Passeio ciclístico em cenário de ficção-científica pós-apocalíptica ou O USO POLÍTICO DA BICICLETA, ou melhor,

BICICLETA OU BARBÁRIE

resolvi ir de bicicleta para fazer tai-chi-chuan com as velhinhas do Itaim
do Butantã até lá dá uns 7 quilômetros e meio medidos na régua do Google Earth

o passeio é agradável, passando pelos bosques do Instituto das cobras
margeando a USP e pegando um retão no calçadão das alamedas do Jockey Club

até que você tem que atravessar o Rio Pinheiros pela ponte Cidade Jardim (que ironia)

muitos carros acelerados estressados se arrastando parados jogando fumaça de combustível fóssil no seu nariz

e a visão do grande e belo Rio
Pinheiros ( que deve ter sido um dia) transformado em um imenso esgotão a céu aberto de cor de chumbo com estranhas bolhas globulado aqui e ali

tem ou não tem algo muito errado aí

mando então este texto que encontrei no revolucionário, rizomático e mutante site www.rizoma.net onde muitos outros podem ser achados

O USO POLÍTICO DA BICICLETA, ou melhor,
BICICLETA OU BARBÁRIE

de
Liberato Bari e Graziano Predielis

no link, http://www.rizoma.net/interna.php?id=165&secao=mutacao

aí tem o texto inteiro inclusive com analise das contra-indicções ponto a ponto
do trecho que mando abaixo

DIZEM QUE: "OS MEIOS, AO FINAL DAS CONTAS, SÃO SÓ MEIOS". QUERIA DIZER: "OS MEIOS, AO FINAL DAS CONTAS, É TUDO".
M.K. Gandhi

Porquê a bicicleta

À primeira vista pode parecer um tanto bizarro que um meio de transporte possa ser ligado a alguma forma específica de ativismo político: estamos muito acostumados a associar a bicicleta com competições esportivas ou aos tranqüilos passeios perto de casa ou àquela imagem da mulher caseira que se move no centro da cidade com as compras no cestinho. Mas a realidade, como sempre, se perde com a análise superficial.

Já nos colocamos o problema do que é "político", quais categorias de pensamento e ação podem ser definidas como "políticas" e quais não. Certamente não se desconhece que "política" seja um termo que etimologicamente refere-se à polis, à cidade. Sendo assim, interessar-nos por um meio de transporte urbano deveria ser natural em um contexto onde, através da análise geral do "pensar globalmente" se une, a rigor, a uma prática vivida no concreto do "agir localmente".

A bicicleta é um meio de transporte com qualidades incríveis: é ecológica e eco-compatível, sem emissões poluentes (gasosas ou sonoras ou luminosas) facilmente reparável com poucos meios e com poucas despesas; não danifica os recursos não renováveis do planeta que nos hospeda; permite-nos cobrir distâncias rapidamente; é capaz de manter o corpo saudável – no mesmo mundo no qual a indústria alimentícia leva à obesidade uma parte da população, enquanto o liberalismo reduz à miséria a parte restante.

As contra-indicações são na maior parte das vezes contadas somente por quem mantém uma posição de defensor intransigente da imutabilidade da atual fase de desenvolvimento industrial baseada no automóvel (e conseqüentemente sobre a exploração das jazidas de petróleo e a manutenção das áreas geo-políticas de interesse sob o controle político/militar por parte dos países mais industrializados):

- A respiração acelerada do ciclista favorece à absorção de gases poluentes produzidos nas cidades;

- É um meio perigoso em caso de acidentes;

- Pessoas doentes ou deficientes físicos não podem utilizar bicicletas;

- É um meio que permite só deslocamentos curtos;

- É um meio lento;

- Não permite levar cargas;

- É muito exposto às intempéries.


outro trecho legal é a história dos provos em A Tradição da Bicicleta nos movimentos

Provos

Nascidos em 1965 em Amsterdam do encontro de várias personalidades excêntricas e revolucionárias, devem o seu nome à abreviação do termo "provocação". Na formação política destes se uniam o anarquismo e o situacionismo (acolhido porém sem o dogmatismo que distinguiu a Internacional Situacionista) e também a atenção para o urbanismo e a sociologia que liam com um viés radical e inovador.
Se é objetivamente difícil resumir as idéias do Provos visto a falta de "órgão central" ou oficialidade da qual tomar como referência, como quer que seja, é possível definir que a análise de onde partiram era baseada sobre o entendimento de que as massas populares em uma nação rica (no caso deles, os Países Baixos) não são certamente revolucionárias, ao contrário, – sonolentas – e aceitam o poder e o status quo, isso quando não são diretamente conservadoras e reacionárias. Sendo assim, não existe nenhum "proletariado" do qual tomar como referência, nem alguma revolução à ser feita. O desejo revolucionário dos jovens para uma mudança ou para a quebra dos esquemas constituídos, deveria encontrar, segundo eles, um percurso autônomo de realização, fora dos velhos esquemas políticos.
A visão do mundo da parte dos Provos era portanto aquela de quem se move "como um ciclista em auto-estrada", avesso ao próprio mundo que não reconhecem. Só a provocação e o escárnio facilitariam a transformação da sociedade autoritária em uma libertária, ou ao menos mais libertária. Uma diferente visão das coisas, da realidade, poderia ser transmitida com embustes e zombando as autoridades, em primis, a política local. Em Amsterdam o rei ficou nú bem antes de 1968 graças aos Provos e aquela que eles definiam como "a ação do provotariado". O "Plano das Bicicletas Brancas" nasce neste contexto: tratava-se de distribuir milhares de bicicletas pintadas de branco pela cidade, convidando todos a usá-las e deixá-las sempre sem cadeado, de modo que qualquer pessoa que necessitasse de uma bicicleta para locomover-se, bastava apanhar a primeira que encontrasse. Deste modo se criava um contraste seja com o mundo do automóvel, seja com o princípio da propriedade privada. Tendo em vista o enorme sucesso do plano das bicicletas brancas, a policia apreendeu todas com a desculpa de "instigação ao furto". A propriedade, quando é coletiva, põe medo sempre às autoridades. Os Provos reagiram colorindo de branco também algumas bicicletas em dotação à policia...


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