terça-feira, 16 de abril de 2013

Dia da Arte e da Poesia maio de 2006



Começo com Vinícius de Moraes :

Poema Enjoadinho
      
Filhos...  Filhos?

Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?  Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!


Renovação, boa-nova, criação...
Celebrando a vida : Dia da Arte e da Poesia
Contra a barbárie deste dias sinistros : Vida Nova, Arte e Poesia
Estamos grávidos e lá pro fim do ano mais um lindo ser humano a povoar a Terra
Portanto, de novo Dia da Arte e da Poesia
Lembrando que :
Dia da Arte e da Poesia não é encontro social
não é encontro de amigos,
pra falar de política, trabalho, novela e futebol,
pra ficar relembrando o passado e falar mal do presente
pra ficar sentadinho, tipo mesa de bar
ou sofá da sala
dando uma de visita ou anfitrião

Dia da Arte e da Poesia é tudo isso e muito mais
é o dia intergaláctico, mundial de todas as artes e de todas as poesias

Portanto, a regra continua a mesma : FAZ O QUE QUISERES

mas venha com espírito de arte e de poesia
venha para fazer arte e poesia
procure trazer materiais e poemas
lembre que comidas e/ou bebidas são benvindas
façamos uma celebração coletiva

Nada melhor do que a oportunidade e a ocasião

Sábado dia 27 de maio de 2006, a partir de 2 da tarde, até acabar

Dia da Arte da Poesia

celebrando a vida

Termino com João Cabral de Melo Neto de Morte e Vida Severina


FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM PRESENTES, ETC.

            - De sua formosura
              já venho dizer :
              é um menino magro,
              de muito peso não é,
              mas tem o peso de homem,
              de obra de ventre de mulher.
            - De sua formosura
              deixai-me que diga :
              é uma criança pálida,
              é uma criança franzina,
              mas tem a marca do homem,
              marca de humana oficina.
            - Sua formosura
              deixai-me que cante:
              é um menino guenzo
              como todos os desses mangues,
              mas a máquina do homem
  já bate nele, incessante.
- Sua formosura
  eis aqui descrita :
  é uma criança pequena,
  enclenque e setemesinha,
  mas as mãos que criam as coisas
  nas suas já se adivinha.

- De sua formosura
  deixai-me que diga :
  é belo como o coqueiro
  que vence a areia marinha.
- De sua formosura
  deixai-me que diga :
  belo como o avelós
  contra o Agreste de cinza.
- De sua formosura
  deixai-me que diga :
  belo como a palmatória
  na caatinga sem saliva.
- De sua formosura
  deixai-me que diga :
  é tão belo como um sim
  numa sala negativa

- É tão belo como a soca
  que o canavial multiplica.
- Belo porque é uma porta
  abrindo-se em mais saídas.
- Belo como a última onda
  que o fim do mar sempre adia.
- É tão belo como as ondas
  em sua adição infinita.

- Belo porque tem de novo
  a surpresa e a alegria.
- Belo como a coisa nova
  na prateleira até então vazia.
- Como qualquer coisa nova
  inaugurando o seu dia.
- Ou como o caderno novo
  quando a gente o principia.

- E belo porque com o novo
  todo o velho contagia.
- Belo porque corrompe
  com sangue novo a anemia.
- Infecciona a miséria
  com vida nova e sadia.
- Com oásis, o deserto,
  com ventos, a calmaria.

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